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Resenha Econômica: Reflexões do Nobel em Economia de 2024

Para os laureados, as instituições brasileiras ainda não passaram da abordagem extrativista para uma perspectiva inclusiva.

 

 

O Prêmio Nobel de Economia de 2024 foi concedido a três acadêmicos com carreiras marcantes: Simon Johnson, James Robinson e Daron Acemoglu. Este trio de estudiosos foi homenageado por suas contribuições fundamentais ao entendimento de como as instituições afetam a prosperidade das nações, e como as raízes históricas, especialmente as consequências do colonialismo, impactam a desigualdade global contemporânea. A pesquisa dos laureados destaca-se pela investigação das relações entre as instituições, o desenvolvimento econômico e o legado da colonização, algo central para compreender a persistência da pobreza em muitos países do Sul Global.


 

 

Créditos da foto para Reuters



Daron Acemoglu: O Visionário das Instituições

Nascido na Turquia, Daron Acemoglu é um dos economistas mais influentes de sua geração. Acemoglu é professor no Massachusetts Institute of Technology (MIT), onde construiu uma carreira que o consolidou como um especialista em economia política e desenvolvimento econômico. Acemoglu é conhecido por seu trabalho seminal em colaboração com James Robinson, especialmente o livro "Why Nations Fail: The Origins of Power, Prosperity, and Poverty". Nesse estudo, eles argumentam que as diferenças nas instituições políticas e econômicas explicam por que algumas nações são ricas enquanto outras permanecem pobres.

Na conferência de imprensa após o anúncio do Nobel, Acemoglu ressaltou o papel dos grupos pró-democracia na coleta de dados que evidenciam o enfraquecimento das instituições e do Estado de Direito em várias partes do mundo. Ele comentou sobre o desafio da "instabilidade do crescimento autoritário", observando que regimes autoritários, como o da China, enfrentam dificuldades em fomentar inovação sustentável, sugerindo que tal modelo não conduz ao crescimento duradouro. Um ano antes, à revista Veja, Acemoglu, apesar de elogiar as políticas sociais do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, demonstrou preocupações quanto a influência da China sobre o Brics. Já em entrevista à BBC, o laureado enfatizou que a democracia é mais eficaz quando a classe média está fortalecida.  

Simon Johnson: O Guardião da Democracia

Simon Johnson, nascido no Reino Unido e posteriormente naturalizado americano, também é professor no MIT, onde leciona Economia Global. Sua pesquisa sempre focou em crises financeiras e os fatores que contribuem para o desenvolvimento econômico e político das nações. Johnson desempenhou um papel importante durante a crise financeira de 2008, quando atuou como economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), oferecendo análises detalhadas das causas da crise e possíveis soluções.

A contribuição de Johnson para o Nobel de 2024 está relacionada ao estudo do impacto das instituições no desenvolvimento econômico e na estabilidade política. Em uma entrevista à Reuters, ele expressou sua preocupação com a "fragilidade das instituições estabelecidas" nos Estados Unidos, fazendo referência à negativa de Donald Trump em aceitar os resultados das eleições de 2020. Para Johnson, essas tensões são um "teste de estresse" crucial para a democracia americana, destacando a importância das instituições fortes e funcionais.

Se pegar o paralelo, talvez o mesmo pensamento do laureado possa estar presente no Brasil, visto que a última eleição presidencial também colocou em teste a democracia nacional.

 

James Robinson: O Explorador das Raízes Históricas

James Robinson, nascido no Reino Unido e atualmente professor na Universidade de Chicago, é parceiro de longa data de Acemoglu em muitas das suas pesquisas. Robinson se destaca por seu foco na interseção entre a política e a economia, com especial interesse nas economias em desenvolvimento e nos regimes autoritários. Robinson traz um enfoque interdisciplinar, combinando economia, história e ciência política para entender como as instituições moldam as trajetórias de desenvolvimento.

Durante a cerimônia de anúncio do prêmio, Robinson destacou a importância das ideias em moldar a forma como as pessoas abordam os desafios em suas sociedades. "Não acredito que os economistas tenham uma solução mágica para todos os problemas", afirmou, sublinhando que, para entender os desafios globais, é fundamental considerar o contexto local e as aspirações das pessoas. Seu trabalho com Acemoglu demonstrou como o colonialismo moldou de maneira desigual as economias modernas, criando uma "reversão da fortuna" onde regiões anteriormente ricas ficaram pobres e algumas nações, onde instituições inclusivas foram estabelecidas, prosperaram ao longo do tempo.

Sobre o Brasil James Robinson disse ao Estadão que a fraca sociedade brasileira está presa a um Estado frágil, corruptível e de política clientelista. Segundo laureado, a sociedade brasileira não consegue influenciar o Estado e os políticos que estão no poder se aproveitam, atrasando o desenvolvimento do país.

 

O Legado do Colonialismo e a Persistência da Pobreza

O foco principal da pesquisa dos três economistas laureados foi a análise do impacto das instituições herdadas do colonialismo nas economias atuais. Eles mostraram que, em regiões onde o colonialismo focou na extração de recursos, como na América Latina e na África, as instituições resultantes foram desenhadas para beneficiar as elites, contribuindo para a perpetuação da desigualdade e da pobreza. Em contraste, países como os Estados Unidos, onde os colonos europeus estabeleceram instituições inclusivas, experimentaram um crescimento econômico mais sustentável.

Além disso, os economistas descobriram que as condições de colonização, como a mortalidade dos colonizadores, influenciaram o tipo de instituições estabelecidas. Nos locais onde a mortalidade entre os colonizadores era alta, como na África subsaariana, menos investimentos foram feitos em instituições duradouras, resultando em economias menos prósperas hoje. Essa análise ajuda a explicar as persistentes diferenças de desenvolvimento entre as nações ricas e pobres e sugere que o legado institucional desempenha um papel central na manutenção dessas desigualdades.

Impacto Global da Pesquisa

O trabalho de Acemoglu, Johnson e Robinson tem implicações profundas não apenas para o entendimento acadêmico da economia global, mas também para as políticas públicas. Eles oferecem uma base teórica sólida para que governos e organizações internacionais desenvolvam estratégias de combate à pobreza que considerem as raízes históricas das instituições fracas. Ao destacar a importância das instituições inclusivas e democráticas, seu trabalho sugere que reformas institucionais robustas são essenciais para qualquer estratégia de desenvolvimento sustentável.

Conclusão

A concessão do Prêmio Nobel de Economia de 2024 a Daron Acemoglu, Simon Johnson e James Robinson ressalta a crucial importância das instituições no desenvolvimento econômico e na estabilidade política. Sua pesquisa sobre as origens históricas das desigualdades institucionais ilumina os desafios enfrentados por muitas nações em desenvolvimento atualmente. Compreender como as instituições influenciam a prosperidade oferece ferramentas essenciais para enfrentar um dos problemas mais urgentes do nosso tempo: a redução da desigualdade global.

Os laureados enfatizam que a solução para essas questões deve ser contextualizada, uma vez que não existe uma fórmula única que funcione em todos os lugares. Em determinadas regiões, o desenvolvimento pode ser obstaculizado por um sistema judiciário fraco, enquanto em outras, a ineficácia do legislativo é um entrave. Além disso, há lugares onde o Banco Central se encontra comprometido, dificultando ainda mais o progresso. Para Acemoglu, Johnson e Robinson, a análise deve se concentrar na avaliação das instituições, suas estruturas e os verdadeiros objetivos para os quais foram estabelecidas.

Cada país em desenvolvimento enfrenta uma armadilha específica que regula seu crescimento local, e cabe ao Estado não apenas fortalecer a sociedade, mas também permitir que esta, por sua vez, fortaleça o Estado. Essa interação é fundamental para criar um ambiente propício ao desenvolvimento sustentável e inclusivo

 

Referências

  1. Hohnson, Simon; Tagaris, Karolina. (2024, Outubro, 14). "U.S.-based academics win Nobel economics prize for research on colonisation's legacy." Reuters.
  2. Acemoglu, D., & Robinson, J. A. (2012). Why Nations Fail: The Origins of Power, Prosperity, and Poverty.
  3. Carrança Thais. (2024, Outubro, 15) “Lula precisa melhorar vida da classe média para fortalecer democracia, diz Acemoglu.” Folha de São Paulo.
  4. Zanobia, Luana. (2024, Outubro, 15) “A decepção do vencedor do Nobel de Economia com o governo Lula.” Veja Negócios.
  5. Redação. (2024, Outubro, 14). “O que os vencedores do Nobel de Economia já falaram sobre o Brasil?” Estadão.

Descrição do Autor: Marcelo Shin

Data da Públicação: Quarta-Feira, 16 de Outubro de 2024

Hora da Publicação: 16:47:40 -03

Referência: Marcelo Shinkoda. Resenha Econômica: Reflexões do Nobel em Economia de 2024. eFatores,Quarta-Feira, 16 de Outubro de 2024. Disponível em: https://www.efatores.com.br/arquivos/economiaNobel_2024Oct16.php